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O
Quilombo do Leblon.
"A
crise final da escravidão, no Brasil, deu lugar ao
aparecimento de um modelo novo de resistência, o que
podemos chamar de quilombo abolicionista, com lideranças
muito bem conhecidas, cidadãos articulados politicamente.
Não
mais os poderosos guerreiros do quilombos antigos, mas um
tipo novo de liderança, uma espécie de instância
de intermediação entre a comunidade de fugitivos
e a sociedade envolvente
O
idealizador do quilombo foi o português José
de Seixas Magalhães, que dedicava-se à fabricação
e ao comércio de malas. Seixas era membro Ativo da
Confederação Abolicionista e usava sua chácara
no Leblon, na época uma região pouco habitada
da Cidade, para abrigar escravos fugidos das fazendas de Café.
Seixas diversas vezes foi processado pelos donos dos escravos
que ele albergava, mas os processos nunca davam em nada. A
ameaça ao boicote das suas malas fez até que
ele publicasse a 17 de maio de 1884 um anúncio a oferecer
"ao preço da chuva" as suas malas. Estava
tudo em saldo! "É uma verdadeira queima! E que
malas! É cada malão."
Um
homem de idéias avançadas, dedicado à
fabricação e comércio de malas e sacos
de viagem na Rua Gonçalves Dias, no Centro, onde já
utilizava os mais modernos recursos tecnológicos. Suas
malas feitas com máquina a vapor, eram reconhecidas
pelo mundo afora, e mereceram prêmios tanto na Exposição
do Rio de Janeiro, quanto na Exposição de Viena
d`Áustria.
Além
de sua fábrica a vapor, o Seixas possuía uma
chácara no Leblon, onde cultivava flores com o auxílio
de escravos fugidos. Seixas ajudava os fugitivos e os escondia
na chácara do Leblon com a cumplicidade dos principais
abolicionistas da capital do Império, muitos deles
membros proeminentes da Confederação Abolicionista.
A chácara de flores, a floricultura do Seixas, era
conhecida mais ou menos abertamente como o “quilombo
Leblond”, ou “quilombo Le Bloon”, então
um remoto e ortograficamente ainda incerto subúrbio
à beiramar. Era, digamos, um quilombo simbólico,
feito para produzir objetos simbólicos. Era lá,
exatamente, que o Seixas cultivava as suas famosas camélias,
o símbolo por excelência do movimento abolicionista
Com
a proteção do Imperador Dom Pedro II e da Princesa
Isabel, o quilombo do Leblon nunca chegou a ser investigado,
continuando a Princesa a receber calmamente os seus ramalhetes
de "camélias subversivas". E com isso, como
se pode imaginar, crescia o poder simbólico das camelliaceas
dentro do movimento político, sobretudo das que pudessem
ser identificadas como “camélias do Leblon”
ou “camélias da Abolição”.
Na
guerra simbólica que se instaura, uma ou outra vez,
a Princesa ousou aparecer em público – o que
era sempre notado pelos jornais – com uma dessas flores
do Leblon a lhe adornar o vestido. O simbolismo estará
presente até na hora da assinatura da lei, quando aproximou-se
da princesa o presidente da Confederação Abolicionista,
João Clapp, e lhe fez entrega, solenemente, de um “mimoso
bouquet de camélias artificiais"
Quando
o chefe de polícia, desembargador Coelho Bastos, o
famoso “rapa-coco”, quis agir e pôr fim
à cantoria abolicionista que se fazia na Gávea,
no ponto final dos bondes, o Seixas foi protegido pela própria
Princesa Isabel e, por trás dela, pelo Imperador do
Brasil, que, segundo consta, pediu ao Barão de Cotegipe
que encerrasse o caso sem maiores formalidades ou investigações
”
As
camélias eram inclusive uma senha, que servia para
indentificar os Abolicionistas entre si. Era o símbolo
da ala radical do Movimento, que promovia a fuga e proteção
de Escravos."
É
com uma pena de ouro, oferta de muitos abolicionistas, incluindo
o Seixas, que a princesa Isabel, na altura regente do império,
assina a Lei Áurea, a 13 de maio de 1888
Fonte:
O Quilombo do Leblon ela Abolição da Escravidão.
Casa Rui Barbosa. Princesa Isabel. A Redentora. De Pedro Calmon.
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