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O Jangadeiro Herói da Abolição do Ceará

Francisco José do Nascimento (1839-1914) conhecido por Chico da Matilde, o lendário Dragão do Mar. Chico da Matilde, devido a mãe Matilde da Conceição – nasceu em Canoa Quebrada, Aracati, em 1839.

Francisco teve um importante papel no movimento abolicionista do Ceará, ao liderar, em 1881, seus companheiros que se recusaram a embarcar no porto de Fortaleza os escravizados que seriam enviados às províncias do sul. O movimento dos jangadeiros em Fortaleza paralisou o mercado escravista do porto da cidade que, a partir de então, foi considerado fechado para o tráfico.

O Ceará seria a primeira província brasileira a abolir a escravidão, em 1884, quatro anos antes da assinatura da Lei Áurea. Na ocasião, Chico da Matilde embarcou com seus companheiros para o Rio de Janeiro, onde participou das comemorações pela abolição no Ceará e, junto com ele, levou embarcada uma de suas jangadas, nomeada Liberdade. A recepção e as comemorações abolicionistas na Corte ajudaram a consolidar a alcunha de Dragão do Mar.

Francisco José do Nascimento transformou-se no símbolo da luta cearense contra a escravidão. Foi conduzido de navio em 1884 ao Rio de Janeiro, onde foi alvo de várias festas e honrarias. Foi carregado nos braços pela Rua do Ouvidor, sob uma chuva de pétalas de rosas jogadas do alto dos prédios. Teve um encontro de alguns minutos com o próprio imperador D. Pedro II, e foi retratado na capa da famosa Revista Ilustrada.

Doou uma jangada – Liberdade – ao Museu Nacional. Por pressão dos escravocratas, o diretor do Museu foi demitido e a jangada recolhida a um depósito da marinha, onde desapareceu. De volta a Fortaleza, em 1889, ele foi reconduzido, por ordem do Imperador D. Pedro II, ao cargo de prático da Capitania dos Portos. No ano seguinte, com o advento da República, João Cordeiro assume brevemente a presidência do estado e entrega a Dragão do Mar a patente de Major-Ajudante de Ordens do Secretário-Geral do Comando Superior da Guarda Nacional do Estado do Ceará, em reconhecimento à sua bravura.

Torna-se um dos primeiros a desfilar pelas ruas, ouve o hino nacional em sua homenagem, recebe chuvas de flores da multidão e finalmente ganha o nome místico que o imortalizaria, também da lavra de Patrocínio: Dragão do Mar.

No ano de 1902, casou-se, pela segunda vez, com Ernesta Brígida, sobrinha de João Brígido. Em 1904, aos 65 anos, o Dragão do Mar volta a participar de causas populares. Desta vez lidera a Revolta dos Catraieiros, movimento de pescadores e chefes de família em reação ao fato de haverem sido sorteados para o serviço militar, tendo que seguir para o sul do país a bordo do navio Maranhão.

Contudo, à força, o governo embarca os amotinados, não antes de deixar 90 homens feridos e um morto em confronto com os soldados da província. Nessa ocasião, Dragão do Mar lidera uma marcha até o Palácio da Luz, sede do governo de Pedro Borges, cobrando justiça. O presidente, temendo o pior, recolhe suas tropas. Até seus últimos dia de vida, o herói cearense agiu em defesa das classes menos favorecidas, vindo a falecer no dia 6 de março de 1914, em razão de ataques dos jagunços do Padre Cícero, que lutavam para derrubar o presidente Franco Rabelo.

Em 1999, o símbolo da resistência popular cearense contra a escravidão foi finalmente homenageado pelo governo do Ceará dando seu nome ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

Fonte: Dicionário da escravidão negra no Brasil - Página 286

 

 
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