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O
Exército e a Abolição da Escravidão
no Brasil.
Um
Fato pouco conhecido na História Nacional foi o papel
do Exército Brasileiro na Campanha Abolicionista;
"Duque
de Caxias, atual Patrono do Exército, é um destacado
pioneiro abolicionista. Isto por haver assegurado a liberdade,
ao final da Revolução Farroupilha, por sua conta
e risco, contrariando instruções superiores,
a 120 lanceiros negros que haviam lutado pela causa republicana
farroupilha, e os recebeu em Ponche Verde, em 19 de março
de 1845, para incorporá-los, como livres, ao Exército
Brasileiro.
Um
fato marcante e pioneiro dentro da campanha abolicionista
ocorreu em Porto Alegre, quando o General Manoel Marques de
Souza, o Conde de Porto Alegre, em 25 de agosto de 1865, durante
a Guerra do Paraguai, a criação da Sociedade
Libertadora de Escravos.
A
sociedade, presidida pelo Conde de Porto Alegre, destinava-se
a libertar crianças escravas. Ela foi a primeira sociedade
no gênero, acreditamos, na fase do abolicionismo brasileiro.
Segundo
Tasso Fragoso, foram libertados 4.749 escravos, para ingressarem
no Exército, na Guerra do Paraguai. A propósito,
frisou: "Isto, antes de ser uma humilhação
para o Exército, resultou em a instituição
tornar-se a maior aliada da população negra
e mulata, escrava, com vistas à sua emancipação
total".
Segundo
se conclui de estudos do Gen Aurélio Lyra Tavares,
foi no Exército e na Marinha, como militar, que o negro
encontrou um status mais digno e a melhor alternativa para
escapar à situação servil, maior realização
e maior confiança da sociedade, ao lhe serem confiadas
armas para a defesa desta mesma sociedade
Segundo
se conclui de R. Magalhães Júnior, em "Deodoro,
a Espada contra o Império", o abolicionismo entrara
nos quartéis e lá fizera morada. O próprio
Marechal Deodoro da Fonseca, declarou:
"Estou
profundamente convencido de que a Pátria não
poderá atingir os gloriosos destinos a que está
fadada, enquanto tiver em seu seio a escravidão."
Em
setembro de 1887, alunos da Escola Naval e da Escola Militar
se solidarizaram ao tribuno da Abolição, Joaquim
Nabuco, por sua eleição a deputado por Pernambuco.
Os alunos da Escola Militar foram punidos por ordem do Ministro
da Guerra, Conselheiro Delfino Ribeiro da Luz.
Joaquim
Nabuco então saiu em defesa do Exército contra
sua utilização pelo governo na captura de escravos.
"A escravidão ainda se reflete sobre o modo pelo
qual o governo trata o Exército Brasileiro. O governo
está empregando o nosso Exército em um fim completamente
estranho a tudo o que há de mais nobre para o soldado.
O Governo quer empregar os soldados brasileiros como capitão-do-mato
na pega de negros fugidos! Existe profissão mais honrosa
do que a do soldado? Existe profissão mais degradante
do que a de capitão-do-mato?"
Segundo
Magalhães Júnior: "a participação
do Exército Brasileiro foi constante e firme, transformando-se
em fator decisivo para o término da escravidão
em nosso país". Ilustram, como amostragem à
conclusão acima, os seguintes fatos, entre outros:
O
sentimento abolicionista que soprou dos campos de batalha
do Paraguai foi ganhando corpo. Em Fortaleza, Tibúrcio
Ferreira de Souza se engajou no processo. Antonio Sena Madureira
recebeu, na Escola de Tiro de Campo Grande, jangadeiros que
tiveram ação destacada no Ceará, na libertação
antecipada dos escravos. Benjamin Constant foi o maior adversário
do trabalho servil. Posições semelhantes se
observaram em outros membros da 1ª Diretoria e Corpo
Social do Clube Militar, em 1887-88, integrada por oficiais
das Forças Armadas (Exército e Marinha). Podemos
afirmar que a escravidão feria o corpo discente e docente
da Escola Militar da Praia Vermelha, e profundamente o Exército
Imperial, integrado por expressiva massa de negros e descendentes
livres. Tornou-se um dos maiores abolicionistas o afro descendente,
o ex-1º Tenente de Engenheiros do Exército André
Pinto Rebouças.
Ilustra
a omissão do Exército na captura de escravos
o seguinte incidente registrado pela História do Exército
Brasileiro em 1887: "O alferes Gasparino Carneiro Leão
foi mandado à frente de um contingente para interceptar
uma coluna de escravos fugitivos que passava pelo desfiladeiro
de Santo Amaro, conhecido pelos seus sentimentos abolicionistas,
aconselhou os escravos perseguidos a debandarem para a mata
adjacente, o alferes Gasparino não consentiu na chacina
e captura dos escravos, que se dispersaram. Voltou com seu
contingente para São Paulo. Submetido a Conselho de
Guerra, foi absolvido.
Podemos
afirmar que a contribuição das Forças
Armadas foi decisiva para apressar a
Lei Áurea e que a Abolição da Escravatura
se fez, de fato, em 26 de outubro de 1887, como conseqüência
da Petição do Clube Militar, à Princesa
Isabel, no sentido de liberar o Exército do encargo
de capturar escravos fugidos. Esta histórica petição
redundou na recusa do Exército em desempenhar funções
de captura de escravos."
Em
1887, o Marechal Deodoro da Fonseca é eleito Presidente
do Clube Militar, que passa a liderar a ala abolicionista
do Exército.
Deodoro
então manda uma carta a Princesa Regente Isabel, declarando
seu apoio a Causa Abolicionista e protestando contra o uso
do exército na captura de escravos fugidos: “...não
se pode ordenar que soldados sejam encarregados da captura
de pobres negros que fogem a` escravida~o, ou porque ja´
viviam cansados de sofrer os horrores, ou porque um raio de
luz da liberdade lhes tenha aquecido o corac¸a~o e iluminado
a alma. Os membros do Clube Militar, em nome dos mais santos
princi´pios de humanidade, em nome da solidariedade
humana, em nome da civilizac¸a~o, em nome da caridade
crista~, em nome das dores de sua Majestade o Imperador, vosso
augusto pai, cujos sentimentos julgam interpretar e so^bre
cuja ause^ncia choram la´grimas de saudade, em nome
do vosso futuro e do futuro do vosso filho, esperam que o
Gove^rno Imperial na~o consinta que os oficiais e as prac¸as
do Exe´rcito sejam desviados de sua nobre missa~o, que
na~o deseja o esmagamento do pre^to pelo branco nem consentiria
tambe´m que o pre^to, embrutecido pelos horrores da
escravida~o, conseguisse garantir sua liberdade esmagando
o branco..”
Após
a Assinatura da Lei Áurea em 1888, Rui Barbosa, um
dos líderes do movimento abolicionista e republicano,
na~o escaparia de agradecer a influe^ncia militar na abolic¸a~o.
Num artigo intitulado "Dia Ma´ximo" e publicado
a 14 de maio de 1888, escreveu: "Espada redentora, tu
cresceste no horizonte da pa´tria, grande, luminosa,
serenadora, entre as ameac¸as de tempestades, como a
curva do arco-i´ris, o sinal da alianc¸a entre
a nac¸a~o, o escravo e o soldado. Desde enta~o incorreste
na desconfianc¸a, nas perseguic¸o~es: mas no corac¸a~o
das classes populares, que te viram cintilar ao lado do direito
inerme, asseguraste lac¸os de^ fraternidade que te ha~o
de associar para sempre a`s conquistas civis do nosso progresso,
a` transformac¸a~o liberal das nossas instituic¸o~es"
Fonte:
O EXÉRCITO E A ABOLIÇÃO PENSAMENTO E
AÇÃO (MEMÓRIA). Por Cel Claudio Moreira
Bento
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