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Colheita
de Café em Fazenda do Vale do Paraíba.
Fotografia de Marc
Ferrez, 1882. Acervo do Instituto Moreira Sales
"Nas fazendas de
café eram comuns as jornadas de trabalho de quinze
a dezoito horas diárias, iniciadas, ainda de madrugada,
ao som do sino que despertava os escravos para que eles se
apresentassem ao feitor, para receber as tarefas. Se as atividades
fossem próximas à sede da fazenda, iam a pé;
se mais distantes, um carro de boi os transportava.
No eito, distribuíam-se
em grupos e trabalhavam horas sob as vistas do feitor e embalados
pela música que cantavam. Num português misturado
com suas línguas maternas, essas canções
falavam do trabalho, de suas origens, dos patrões e
de si mesmos, num ritmo monótono e constante, repetindo
dezenas, centenas de vezes a mesma melodia.
O almoço era
servido lá pelas dez horas da manhã. O cardápio
constava de feijão, angu de milho, abóbora,
farinha de mandioca, eventualmente toucinho ou partes desprezadas
do porco, rabo, orelha, pé etc. e frutas da estação
como bananas, laranjas e goiabas. Embora houvesse interesse
em se manter o negro saudável e apto para o trabalho,
não havia a preocupação com sua longevidade.
Em fazendas mais pobres, a comida com frequência se
resumia ao feijão com gordura e um pouco de farinha
de mandioca, o que acabava provocando seu definhamento precoce.
Qualquer que fosse a comida, era preparada em enormes panelas
e servida em cuias nas quais os escravos usavam as mãos
ou, mais raramente, colheres de pau. A refeição
deveria ser feita rapidamente, para não se perder tempo,
e de cócoras; os negros tinham que engolir tudo porque
logo em seguida a faina continuava. Por volta de uma hora
da tarde, um café com rapadura era servido substituído
nos dias frios por cachaça, e às quatro horas
jantava-se. Aí, comia-se o mesmo que no almoço,
descansava-se alguns minutos e retomava-se o batente até
escurecer.
Cumpria-se, então,
o ritual da manhã, todos se apresentando ao administrador
ou dono, conforme o caso da fazenda. Era quando, após
uma breve oração, iniciava-se o serão
que constava, geralmente, da produção ou beneciamento
de bens deconsumo. Os escravos debulhavam e moíam o
milho, preparavam a farinha de mandioca e o fubá, pilavam
e torravam o café. Com frequência, cortavam lenha
e selecionavam o café apanhado no período de
colheita. Só lá pelas nove ou dez horas da noite
é que o escravo podia se recolher. Isso para alguém
que, no verão, levantava por volta das quatro horas
da madrugada. Antes de se deitar, fazia uma refeição
rápida e, extenuado, descansava até a jornada
do dia seguinte." Fonte: Escravidão no Brasil
Por Jaime Pinsky.
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