“Morte
aos Brancos e aos Mulatos!”: A Repercussão da
Revolução Haitiana no Brasil
Em 1805, chegava no Brasil a Notícia
da Coroação de um Imperador Negro, Jean-Jacques
Dessalines, um dos líderes da Revolução
Haitiana que proclamou a independência do país
da França em 1 de janeiro de 1804 e foi seu primeiro
governante e monarca. Em 1805, seguindo os passos de Napoleão
Bonaparte, proclamou-se Imperador com o nome de Jacques I.
Sendo a maior e única revolta de escravos bem sucedida
da História das Américas, os feitos do Imperador
Dessalines chegam rápido a então capital do
Brasil, que passa a ter inúmeros admiradores entre
a população negra da Cidade.
Ainda em 1805, Francisco Baptista Rodrigues,
o Ouvidor do Crime da Corte do Rio de Janeiro mandou "arrancar
dos peitos de alguns crioulos forros, o retrato de Dessalines,
Imperador dos Negros da Ilha de São Domingos”
a maioria desses homens ostentando retratos do Líder
Revolucionário do Haiti eram militares “empregados
da tropa de milícia do Rio de Janeiro, e manobravam
Habilmente a Artilharia.”
Havia o medo por parte das autoridades
de que esses homens poderiam no futuro participar de um levante
militar, inspirados pelo fervor revolucionário dos
Haitianos. Medo que se tornou realidade em 1814 em Itapuã
na Bahia, onde de acordo com comerciantes locais, negros rebelados
juravam abertamente lealdade ao Rei Henri Cristophe do Haiti
gritando “Liberdade! Viva os Negros de São Domingos
e seu Rei!” e “Morte aos Brancos e aos Mulatos"
o teor racial do levante foi evidenciado pelo conde dos arcos,
governador da capitania que tão logo recebera denúncia
de uma conspiração em curso, que tinha como
epicentro a casa de um africano liberto na freguesia da Conceição
da Praia, bairro portuário de Salvador.
Descobriu-se na ocasião uma sofisticada
rede conspirativa espalhada por toda a cidade, com ramificações
no Recôncavo dos engenhos, para onde os rebeldes levariam
o movimento após a ocupação da capital.
Nesta, eles planejavam fazer jorrar o sangue dos brancos,
destruir seus templos, queimar as imagens de seus santos e,
há fortes indícios, instaurar um governo muçulmano
ou pelo menos anticristão.
Durante o Século XIX muitas das
rebeliões de escravos no Brasil passaram a ser comparadas
e influenciadas pelos acontecimentos do Haiti.
Fonte: Medo branco de almas negras:
escravos libertos e republicanos na cidade do Rio de Sidney
Chalhoub./Há duzentos anos: a revolta escrava de 1814
na Bahia. João José Reis.
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